Chico Mendes: Uma vida e uma luta

Origem

Filho de Maria Rita Mendes e Francisco Mendes Alves, Chico Mendes, como era conhecido, nasceu no dia 15 de dezembro do ano de 1944. No seringal Porto Rico, localizado na cidade de Xapuri, no Acre. Desde criança, chico sempre acompanhou as atividades do pai, que também era seringueiro, e com isso pode viver de perto o desenvolvimento de uma luta que posteriormente seria sua.

Com o difícil acesso à educação, Chico se destacara dos demais seringueiros, uma vez em que conheceu Euclides Távora. Um refugiado político que residia próximo à sua casa auxiliar na sua alfabetização, o que ocorreu entre seus 16 e 19 anos.

O início da luta de Chico Mendes

Contudo, através da inserção do regimento militar na Amazônia na década de 70 e a substituição da extração do látex das seringueiras pela agropecuária. Passou a haver conflitos de terras e o aumento na exploração dos seringueiros. Por outro lado, a valorização econômica das terras pertencentes aos fazendeiros gerou, além disso, dificuldade no acesso às terras para pequenos produtores. Aqueles seringueiros que protestavam contra a precariedade de suas atividades e o valor baixíssimo recebido pelo mesmo, eram castigados pelos donos de seringais.

Em vista deste cenário, Chico Mendes, decidiu por em prática suas ideias, a fim de gerar melhora nas condições de trabalho dos seringueiros e impedir o avanço da devastação ecológica que ocorria, devido ao desmatamento decorrente dos fazendeiros que tinham por intenção, criar pastos para gado naquelas regiões. No ano de 1975, Chico deu início a uma vida sindical, iniciando como secretário-geral no sindicato dos trabalhadores rurais de Brasiléia – AC. No ano seguinte, Chico participou ativamente na luta dos seringueiros contra o desmatamento, através da técnica de empate, que consiste em uma manifestação pacífica, onde os seringueiros protegiam as árvores com seus corpos. Estas manifestações eram, portanto, lideradas pelo então presidente do sindicato de Brasileia, Wilson Pinheiro. Que foi assassinado dentro da sede do sindicato em 1980, como forma de represália ao movimento sindicalista.

Posteriormente, em 1977, Chico participou da fundação do sindicato dos trabalhadores rurais da cidade de Xapuri, sendo eleito vereador pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB) local. Com isso ele recebe as primeiras ameaças de morte.

Ainda em 1977, Mendes passa a ser correspondente do jornal alternativo, o veadouro, também. Com o qual ele cooperava efetivamente e o distribuia nos seringais. Mas o jornal foi cancelado no ano de 1981.

A luta continua

Posteriormente aos fatos apresentados no parágrafo anterior, um dos feitos mais importantes na história de Chico Mendes acontecia em 1980, com a fundação do partido dos trabalhadores. Onde Chico contribuíra de forma efetiva, sendo uma de suas principais lideranças no Acre e tendo participado de comícios ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva na região. Ainda nos anos 80, Chico Mendes é enquadrado na Lei de Segurança Nacional como “subversivo”. A pedido de fazendeiros da região, que tentaram manchar sua reputação alegando que ele teria incitado o assassinato de um capataz de fazenda. Por vingança ao assassinato do então presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Brasiléia.

Em 1985, ocorria o primeiro encontro nacional de seringueiros, liderado por Chico. Criada a partir desta reunião, o (CNS) Conselho Nacional dos Seringueiros, que se tornou a principal referência da categoria. Sob sua liderança, a luta dos seringueiros pela preservação do seu modo de vida adquiriu grande repercussão nacional e internacional. Do encontro saiu a proposta de criar uma “União dos Povos da Floresta“, que buscava unir os interesses de indígenas, seringueiros, castanheiros, pequenos pescadores, quebradeiras de coco e populações ribeirinhas, através da criação de reservas extrativistas. Essas reservas preservariam as áreas indígenas e a floresta, além de ser um mecanismo de promover a reforma agrária desejada pelos seringueiros. Chico Mendes forjou, então, uma aliança com os índios amazônicos, o que levou o governo a criar reservas florestais para a colheita não-predatória de matérias-primas como o látex e a castanha-do-pará.

No ano de 1986, concorreu novamente ao cargo de deputado estadual pelo PT, mas não conseguiu se eleger. Seus companheiros de chapa eram Marina Silva (deputada federal), José Marques de Sousa, o Matias (senador) e Hélio Pimenta (governador), que também não foram eleitos.

O início do fim

Posteriormente, em 1987, Chico Mendes recebeu a visita de membros da Organização das Nações Unidas (ONU) em Xapuri. Denunciou-lhes que projetos financiados por bancos estrangeiros estavam levando à devastação da floresta e à expulsão dos seringueiros. Após dois meses, levou estas denúncias ao Senado dos Estados Unidos e à reunião de um dos bancos financiadores do projeto. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Os financiamentos a tais projetos acabaram sendo suspensos e Chico Mendes foi acusado por fazendeiros e políticos locais de “prejudicar o progresso”. Acusações que não convencem a opinião pública internacional. Alguns meses depois, recebeu vários prêmios internacionais, dentre eles o Global 500, oferecido pela ONU por sua luta em defesa do meio ambiente.

Ao longo do ano de 1988, Chico Mendes participou então da implantação das primeiras reservas extrativistas do Estado do Acre. Ameaçado e perseguido pelos membros da então recém-criada União Democrática Ruralista (UDR). Percorreu o Brasil participando de seminários, palestras e congressos onde denunciava as intimidações que os seringueiros estavam sofrendo. Contudo, após a desapropriação do Seringal Cachoeira, de Darly Alves da Silva. Agravaram-se as ameaças de morte contra Chico Mendes, que, por várias vezes, veio a público denunciar seus intimidadores. Deixou claro às autoridades policiais e governamentais que estava correndo risco de morte e que precisava de proteção, mas seus alertas foram minimizados pela imprensa. No 3º Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), voltou a denunciar sua situação. Atribuiu a responsabilidade pelo aumento da violência no campo ao advento da UDR.

Morte.

Em 22 de dezembro de 1988, exatamente uma semana após completar 44 anos, Chico Mendes foi assassinado com tiros de escopeta no peito na porta dos fundos de sua casa, quando saía para tomar banho, disparados por Darci Alves, o qual cumpria ordens de seu pai, Darly Alves, grileiro de terras da região. Quatro dias antes da morte do ativista, o Jornal do Brasil se recusou a publicar uma entrevista na qual Chico Mendes denunciava as ameaças de morte que havia recebido. A direção do jornal considerou que o entrevistado era desconhecido do grande público e que politizava demais a questão ambiental, optando por não publicar a matéria. Com a consumação das ameaças, o jornal publicou finalmente a entrevista, que seria a última de Chico Mendes, no 1º caderno da edição de Natal daquele ano, seguida de um editorial na primeira página, algo um tanto incomum.

 

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